sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bullying: uma visão panorâmica sobre a questão

Luiz Cláudio Bido

O termo bullying refere-se a uma gama de atitudes agressivas, praticadas entre os alunos de uma escola, com caráter repetitivo, com considerável potencial de danos físicos, morais ou psicológicos, praticada de forma direta (agressões físicas, p ex) ou indireta (bilhetes, publicações na internet, etc).

Embora um certo grau de maus tratos tenham sempre sido detectados entre crianças de uma mesma idade, tal comportamento tem sido percebido com maior freqüência pelos professores e diretores de escola, seja por uma mudança da situação social refletida na escola, seja por uma crescente atenção dos pais relativamente à vida escolar dos filhos ou mesmo porque o tema tem sido tratado com maior presença pela comunidade. Embora ainda não existam dados estatísticos oficiais, trabalhos de pesquisa variados consideram que por volta de 40% das crianças do Ensino Fundamental e Médio tenham se envolvido em episódios de agressão no ambiente escolar, seja como agressores ou como agredidos.

Há cinco aspectos concorrentes na compreensão do bullying no ambiente escolar: o aluno agressor, o aluno agredido, o grupo social formado por todos os alunos, o conjunto família+escola e a sociedade de maneira geral. Vamos analisar cada um desses aspectos na tentativa de compreender o fenômeno e propor possíveis intervenções.


O aluno agressor

Na vida social, cada um de nós busca referências para seus comportamentos, de modo a agir baseado em sentidos pessoais de identidade. Em outras palavras, a forma como nos relacionamos com os demais, depende fortemente de nossos sistemas de identificações, composto, geralmente, pelo conjunto de valores, aprendizagens, experiências com os quais nos relacionamos nos variados grupos sociais em que nos inserimos. Em outras palavras, aprendemos a nos comportar socialmente, de forma a buscar um sentido em nossa forma de estar no mundo.

Isso equivale dizer que, para o agressor, a atitude violenta contra os colegas faz sentido na constituição das relações sociais. Ao agredir, tal aluno considera-se integrado a um sentido social, a um senso de grupo com o qual se identifica e que considera correto. O comportamento agressivo é considerado coerente, esperado, integrado e distintivo de uma posição de concordância em relação ao grupo e ao contexto social. Há um acervo social de sentido que o apóia em suas atitudes agressivas, ao qual ele recorre para justificar seus atos e para fundamentar sua resposta agressiva como uma possibilidade de expressão de sua posição no mundo.

É preciso lembrar que o adolescente tem suas funções egóicas abaladas durante esse período. Para ele, enfrentar a realidade e conseguir julgá-la corretamente é uma tarefa pouco amistosa. Daí, a consideração pelos valores grupais pode basear-se em parâmetros ilógicos ou desequilibrados. Dessa forma, analisar as relações sociais, considerá-las num contexto de cidadania e ética, em que o Outro seja aceito como um elemento relacional, não é uma atitude fácil de ser educada em adolescentes. Para conseguir isso, o adolescente terá que superar seus ímpetos apaixonados de apoiar o grupo social a qualquer custo. Ele terá que encontrar recursos para analisar seu derredor de forma autônoma e conseguir desenvolver atitudes movidas mais pela razão que pela paixão. Essa tarefa não é nada fácil.

Dessa forma, é preciso considerar o agressor em sua complexidade. Por um lado, é verdade que, em alguns casos, o contexto de desenvolvimento sócio-cultural, associado ás disfunções no desenvolvimento afetivo e pulsional podem gerar atitudes anti-sociais graves. Nesses casos, um acompanhamento especializado pode ser indicado. Todavia, há que se considerar que o adolescente agressor vive também uma dificuldade de ajustamento na sua maneira de estar no mundo. Ele vê as relações sociais num prisma de luta pelo poder, num ambiente de hostil competição, em que o outro deve ser agredido para que não o agrida anteriormente. Não há dúvidas de que tal forma de estar no mundo é marcada por uma relação deteriorada com suas próprias identificações. Questões relativas à auto-estima, aos valores aprendidos e questionados no ambiente familiar, aos comportamentos eleitos pelo grupo social como parâmetros desejados e aceitáveis, à auto-imagem e ao auto-conhecimento, enfim, todos esses fatores influenciam essa maneira de ser e de agir.
Parece-me útil considerar a atitude agressiva como manifestação de uma tentativa de criar uma identidade. A distorção está em desconsiderar o Outro nessa tentativa. O adolescente agressor aprendeu a desconsiderar como alternativas válidas em suas relações o direito do outro à sua originalidade. Na verdade, para ele, a forma original de ser do Outro é uma ameaça aos valores sociais que, por variados e diferentes motivos, foram eleitos como referenciais na constituição de sua própria identidade.


O aluno agredido

Toda agressão transforma-se num momento difícil e de delicada compreensão. Quando essa agressão, todavia, acontece na adolescência há agravantes extremamente delicados.

Na adolescência, precisamos elaborar diferentes lutos. Perdemos o corpo infantil, nosso luto mais óbvio, mas não menos difícil de superar: as mudanças corporais, a sexualidade aflorada, os descompassos na coordenação motora, enfim, são todos elementos que concretizam um ser desengonçado, desencontrado e oscilante. Perdemos também os pais infantis: a família torna-se subitamente um espaço de estranhamento, uma ilha deserta a ser desbravada ou um conjunto de lugares-comuns a serem constantemente postos a prova. Perdemos, principalmente, as relações objetais infantis: verdades, desejos, heróis e vilões infantis perdem seu lugar no panteão dos sentidos e das verdades. Há, para o adolescente, um mundo de sentidos a serem construídos ou reconstruídos, verdades a serem descobertas ou revistas, posições a serem tomadas ou ratificadas. Trata-se de um espaço de ignorância a respeito de si e do mundo, um tempo de insegurança e medos, de sensação de abandono e incompletude, muitas vezes disfarçado por máscaras de onipotência e onisciência.

Tamanha é a tarefa a cumprir que se torna natural ter medo, sentir-se incapaz e triste. Especialmente porque ter perdido objetos tão valiosos da infância (a segurança dos valores familiares, a fantasia das relações infantis, a certeza do amor incondicional, etc) pode levar o adolescente a criar relações bastante depressivas com a realidade. Problemas de auto-estima, auto-imagem e baixa valoração podem, associados à depressão comum dessa fase, levar o adolescente a ver o mundo ao ser redor em tonalidades bastante cinzas.

Ser agredido pelos seus iguais, ter suas características mais doloridas expostas ao escárnio público, ser considerado ridículo, incapaz, feio, desejeitado, burro, etc., são experiências cruéis demais para um enfrentamento estruturado. Frente a uma experiência tão feroz, o adolescente possivelmente vai reagir de forma desequilibrada e desestruturada. Pode ser um mergulho em estágios sucessivos de depressão, podendo levar até ao suicídio ou a outras formas graves de negação da vida ou uma atitude desmedidamente agressiva como resposta ao medo e à ameaça. No primeiro quadro, nos deparamos com adolescentes incapazes de resistir e responder ao bullying, no segundo caso, temos adolescentes que encontram no próprio bullying uma resposta ao clima ameaçador do ambiente. Nos dois casos, há uma ameaça a vida, considerada como saúde mental e equilíbrio psicológico, ou como integridade física.

Nos casos em que o adolescente agredido não consegue reagir ao bullying, pode ocorrer a adoção da passividade como arma de resistência. O adolescente parece identificar-se com a imagem construída pelo agressor, como forma submissa de pertencimento, de estar em algum lugar nesse mundo, mesmo que seja o lugar da desintegração, da desvalorização. Esse adolescente desenvolve uma forma falsa, inconsistente e pouco madura de ser, uma vez que não encontra em si as armas necessárias para o enfrentamento e para a constituição saudável e integrada de sua própria personalidade.

O grupo social

A relação do adolescente com seu grupo já foi amplamente estudada pelos manuais de Psicologia. Além de um espaço de auto-afirmação e de constituição da identidade, o grupo é, para o adolescente, um terreno possivelmente apropriado para testar suas teses, constituir valores, discutir opiniões, arquitetar enfrentamentos, elaborar posições, medir sua força agressiva e sua capacidade de amar e ser carinhoso. Tudo isso pode ser considerado como um laboratório de alteridade. A alteridade serve como parâmetro para as compreensões do mundo e de suas relações e, dessa forma, é fator determinante para a constituição da identidade.

Esse espaço de descobertas orienta o adolescente em seus processos de aceitação e de concordância. É ali que o adolescente vai distinguir entre as preposições que aceita como verdadeiras e aquelas que julga falsas ou inadequadas. Além disso, distingue também as idéias que, embora julgue aceitáveis, não pode ou não concorda em seguir. É dessa forma que busca atingir autonomia e maturidade num campo distinto dos valores constituídos pela família e pela escola.

Tal campo de forças identificatórias torna-se especialmente forte e coeso, ganhando na vida adolescente um caráter de lei, de mandamento. Opor-se a essa força é de tal maneira difícil para o adolescente que se torna impossível perceber as incoerências e autoritarismos de muitas posições defendidas dentro do grupo. Além disso, o grupo projeta seus conteúdos menos elaborados sobre outros grupos sociais ou sobre indivíduos não identificados com o próprio grupo, de tal forma que defeitos e incongruências sejam sentidos como pertencentes apenas ao Outro, que deve, por isso mesmo, ser execrado, isolado e discriminado. Sem dúvida, está aí senão a fonte do bullying pelo menos seu principal combustível.

Dessa forma, o grupo social é, para o adolescente, espaço de construção da alteridade e da autonomia. Por outro lado, pode também ser combustível para o preconceito e para a discriminação. Não é fácil para o adolescente, nesse momento, compreender e distinguir aspectos tão antagônicos do grupo ao qual pertence e com o qual se identifica.

A família e a escola

Embora desenvolvam muitas vezes papéis antagônicos, a família e a escola podem ser compreendidas como um mesmo bloco de significado na questão complexa do bullying escolar. Considero que ambas devam ser entendidas como espaço de apoio, de acolhimento e de compreensão do momento delicado que vive o adolescente agressor e o adolescente agredido.

As duas instituições passam por um momento delicado de questionamento quanto aos seus papéis sociais. Novas formas de educar parecem ser necessárias, na medida em que novos contextos sócio-culturais emergem de novas relações econômicas, geográficas, tecnológicas e religiosas. Novos valores questionam a família e a escola e exigem delas novas compreensões do mundo e dos seres humanos: será melhor educar para o sucesso ou para a felicidade? Será melhor educar o bom ou o bem?

A escola e a família se questionam como responder a essas questões. Todavia, mais importante que buscar uma verdade única, seja, talvez, manter-se presente e ativamente como referência na construção de respostas. Em outras palavras, manter-se responsável. Não abdicar do problema, não desistir da questão, nos tempos atuais, é mais importante do que buscar uma única resposta possível. Se o tema é complexo, escola e família devem apostar na construção compartilhada de possibilidades, de abordagens, de conhecimento. Educar nunca foi fácil, mas na contemporaneidade, escola e família são ainda mais veementemente chamadas a dialogar, compreender, acolher, acompanhar. Tudo o que exige tempo e atenção, material infelizmente muito raro nos dias atuais.

A sociedade contemporânea

Em tempos de crise e de insegurança, o individualismo desperta como atitude defensiva básica. Além disso, o acesso a novas tecnologias, ao consumo e à mídia podem nos levar a compreender a geração atual como narcisista, egocêntrica e superficial. Todavia, tal análise é equivocada. Na atualidade, temos uma geração extremamente capaz de lidar com a informação, hábil na comparação entre os enunciados, com acesso a uma rede inacreditável de contatos dos mais variados calibres e qualidades. O fato de não se aprofundarem em suas análises, nem em suas vinculações, está relacionado com as condições escolares e familiares em que esta geração deve se desenvolver. Uma educação finalista, voltada para a competição social e para o sucesso profissional, aliada a uma situação familiar em que pais dedicam-se muito mais horas ao trabalho que ao convívio com os filhos, gera adolescentes incapazes de conversar, de analisar, de ouvir e de conviver. Isso não se deve ao individualismo ou ao narcisismo como componente constitutivo da época, mas à situação educacional em que o adolescente está inserido.

Também não é correto atribuir a essa geração a pecha de mal educada ou mal preparada. Na verdade, a forma como educamos essa geração a torna competente para algumas relações e incompetente para outras. Se queremos educar a alteridade, a capacidade de se vincular e de se relacionar mais profundamente, teremos que nos apresentar a essa geração como adultos significativos, como espaço educacional significativo, como possibilidade de construção de saberes mais profundos, mais críticos e mais libertadores. Certamente, enquanto oferecermos apenas informação, os adolescentes saberão decodificá-la, classificá-la e transformá-la em lances a serem utilizados nos jogos sociais, sem necessariamente se implicar com o conteúdo informado.

Prevenir o bullying
A prevenção do bullying, sob o ponto de vista do agressor ou do agredido, pode ser feita atentando para a educação de algumas atitudes no ambiente escolar e no ambiente familiar:

A) Comportamentos agressivos não são isolados. Devemos ficar atentos às atitudes dos adolescentes. Manifestações de desrespeito pelo espaço relacional, desrespeito pela alteridade, pela diversidade, pelo direito do outro, são todas atitudes que não surgem isoladamente ou subitamente. Na verdade, são atitudes construídas e, de alguma forma, valorizadas pelos que vivem ao redor do adolescente. Quando tais atitudes forem percebidas, não é possível deixar para depois: é preciso parar tudo e pontuar, com clareza, qual a atitude esperada e considerada mais desejável.
B) Desrespeito nas relações é a base do bullying. Ao menor comentário de desprezo, ironia ou preconceito, o adolescente deve ser lembrado da importância de um olhar mais humano, mais tolerante para com os demais. O desrespeito é a base da aceitação da atitude violenta.
C) Saber falar, saber ouvir, saber ver. Talvez porque os julgamos bem informados, acreditamos que os adolescentes sabem lidar com a expressão, com as palavras e com os gestos. Não é verdade. Muitas vezes precisamos ensiná-los a se expressar: como colocar certos assuntos, como desenvolver certos pontos de vista, como dizer “não”, como se colocar sem ser ofensivo. É bom também educar a audição, a compreensão, a aceitação dos pontos de vistas diferentes, a consideração pelas idéias diferentes, etc. É comum o adolescente querer expressar seus sentimentos, mas não saber como pode fazê-lo. É preciso incentivá-lo a novas formas de comunicação e, ao mesmo tempo, educá-los para usar as variadas possibilidades de expressão de uma forma sadia e equilibrada.
D) Respeito à diversidade e ao Outro. É preciso discutir com os adolescentes a questão da Alteridade: limites entre si e o Outro, limites entre os espaços da individualidade, o direito de ser diferente, de ver o mundo de formas diversas, são valores a serem educados nos filhos, nos alunos, nos pais e nos professores.
E) Educar para o relacionamento. Todos passamos boa parte da vida tentando aprender a nos relacionar com os Outros. Não é justo pensar que o adolescente sabe, naturalmente, como se relacionar com os demais. Tratar o relacionamento com os colegas, com os professores, com a família, etc, como um saber, como um conhecimento, uma habilidade a ser treinada, desenvolvida, considerada, é uma boa atitude e que pode gerar bons momentos de conversa com os filhos e com os alunos.
F) Educar para a cidadania e para a ética. Esses dois conceitos podem parecer muito abstratos, tanto para adolescentes quanto para os adultos. A cidadania e a ética parecem objetos desejáveis, porém sem consistência. Você nunca verá alguém falar contra a atitude ética ou contra a postura cidadã, mas basta olhar ao redor para ver que a prática desmente a teoria. A chave, me parece, é deixar de lado os conceitos e partir para a prática, envolvendo o jovem em projetos de cidadania e nas lutas por justiça. A atitude reivindicatória é uma das características da idade juvenil, e deve ser utilizada a favor do jovem, de modo que o leve a se ver envolvido com projetos em defesa de ideais e idéias.
G) Cuidar dos exemplos. Não é desconhecido de ninguém o fato de que os exemplos têm grande força educativa. Assim, ter pais e professores engajados em projetos de cidadania, agindo de forma ética e participativa, levando em conta o valor dos outros, a diversidade e a alteridade, poderá auxiliar muito fortemente a educação desses valores nos adolescentes. É preciso lembrar que os adolescentes aprendem os exemplos e não as palavras.
H) Incentivar a participação, a integração, o entusiasmo, o grupo. Oferecer ao adolescente, no âmbito familiar e escolar, oportunidades para que ele dê asas ao seu desejo de participar, de fazer parte, de se engajar. É preciso tomar essa tarefa como uma tarefa educativa: apresentar aos adolescentes as formas que ele tem para participar da sociedade, para atuar em grupos positivos, construtores, engajados. Há um mundo a ser construído e há jovens que querem participar dessa construção. O educador deve apresentar um ao outro.
I) Questionar as relações egocêntricas, consumistas, individualistas. É preciso apresentar aos alunos e aos filhos novas opções de relacionamentos, novas formas de ver o mundo e as coisas, novas possibilidades. É preciso acreditar na força educativa do diálogo, da família, dos encontros, dos vínculos.
J) Manter-se envolvido na vida do adolescente. Os educadores – sejam eles professores ou pais – devem manter-se envolvidos na vida dos jovens, devem permanecer interessados, atentos, questionando todas as atitudes do jovem, dos seus amigos, do grupo. Enfim, os adultos devem participar e se fazerem presentes.

O que fazer com o aluno agressor?

A pior atitude é a negação do problema. Por isso, a escola e a família devem confrontar o agressor com sua atitude agressiva. Todavia, devem fazer isso de forma acolhedora, não acusativa. Não se trata de encontrar justificativas, nem de ocultar o que aconteceu. Mas, ao contrário, através da constatação de que o agressor precisa mudar seu comportamento e assumir seu erro, auxiliá-lo a construir uma atitude mais positiva e consciente. O agressor deve ser auxiliado a enfrentar as conseqüências de sua atitude. Nesse sentido, ele deve aprender a reconstruir as relações rompidas, a superar os limites de sua atitude negativa e a encontrar nas pessoas uma razão para o desenvolvimento de atitudes mais saudáveis. Podemos resumir tudo isso na palavra “responsabilidade”. Ser responsável por algo significa dar uma resposta a um problema que foi criado por uma atitude equivocada. Não adianta punir, se a punição for apenas um substitutivo, um paliativo. É preciso reconstruir, enfrentar a situação e tentar fazer diferente.

A escola e a família não podem abrir mão do agressor, expulsando-o simplesmente do convívio com os demais. O agressor deve ser orientado: ele deve conseguir saber com clareza o que fez, que conseqüências isso terá para si e para o agredido e saber também por que ele agiu da forma como agiu. Somente frente à clareza total dos fatos o agressor poderá decidir livremente sobre seu próximo passo.

O agressor deve ser educado: deve conhecer novas formas de relacionar-se com os demais, deve conhecer ferramentas de auto-domínio e de controle da agressividade. Nesse sentido, a escola e a família devem possibilitar novas vivências, geradoras de novas atitudes.

A escola e a família devem construir com o agressor novas diretrizes de comportamento e de relacionamento com a realidade. Essas novas diretrizes devem ser utilizadas pelo próprio agressor, com a supervisão da escola e da família, como balizamento dos seus comportamentos e das novas formas de relacionar-se com os demais. É fundamental que o agressor seja visto como alguém que pode ser ajudado pela escola, pela família e também por especialistas, como o psicólogo, o médico psiquiatra, etc, quando estiverem envolvidas esferas específicas além das educacionais.

O que fazer com o aluno agredido?

O adolescente vítima de bullying deve ser acolhido e cuidado pela comunidade e pela família. Num primeiro momento, pode ser que esse cuidado seja constituído por intervenções básicas de apoio físico e emocional, por médicos e psicólogos.

Todavia, é importante que ele compreenda todo o contexto que envolve a agressão que sofreu, até para que não se sinta culpado pela agressão, por se achar “estranho”, “burro”, ou por se identificar com a imagem que o agressor projetou sobre ele. De certa maneira, a escola e a família devem auxiliar – ou, em muitos casos, procurar ajuda especializada que possa fazê-lo – o adolescente a reagir, a não se submeter, a não se entregar. Nesse caso, pode ser muito esclarecedor para o adolescente saber quais são as variadas formas de reação, que não seja a igualmente violenta. A comunidade escolar, na figura dos professores, orientadores e diretores, bem como a comunidade familiar e os amigos, devem incentivar o agredido a buscar novas formas de relacionamento mais saudáveis, que não admitam a diminuição de si e o abandono de seus valores. Embora pareça algo óbvio, tal suporte pode constituir-se numa tarefa árdua e dolorida para alguém que tem sua auto-estima abalada.